É óbvio que a gigantesca massa de assuntos abordada no Ensino Médio diminui o interesse dos alunos pelo estudo, prejudicando a aprendizagem, já que a utilidade de todas essas informações é muito baixa!
A reforma do Ensino Médio foi aguardada durante décadas com especial atenção, entretanto, emperrada no congresso pela tradicional falta de interesse político no assunto, terminou sendo apresentada na forma de Medida Provisória sem muita participação dos setores ligados à educação brasileira. A pressa foi tamanha que alguns parâmetros básicos sequer foram apresentados, como por exemplo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que, no fim das contas, definirá os tópicos que serão ensinados obrigatoriamente e só será disponibilizada em 2018. Segundo o MEC, a implantação da reforma só ocorrerá efetivamente a partir do segundo ano letivo subsequente à data de homologação da BNCC, ou seja, ela só valerá mesmo em 2020. Há, portanto, muita incerteza sobre a implantação dessa proposta e quanto tempo isso levará.
Na teoria, a reforma flexibiliza o currículo e amplia a jornada escolar. Áreas do conhecimento dão lugar às disciplinas, mas, paradoxalmente, a BNCC é disciplinar, bem como os atuais professores que foram formados também nas suas respectivas matérias. Conteúdos essenciais de cada área não podem ser deixados de lado, mas quem definirá isso? Se olharmos para trás, recordaremos que as disciplinas só fizeram aumentar de tamanho.
Um macro problema é o custo desse novo Ensino Médio. Passar de 800 horas para 1.400 horas significa uma ampliação de 75%. Quase o dobro. Para isso realmente acontecer, será necessário a implantação do turno integral que agrega almoço, lanche, novos professores ou mais carga horária para os atuais. A rede pública terá recursos financeiro para suportar isso? Os pais da rede particular terão aumento salarial para bancar isso? Quem estuda de manhã terá aulas à tarde e vice-versa. Haverá espaço físico suficiente para esse crescimento exponencial? E quem estuda à noite?
Outras dúvidas que estão completamente sem respostas são as seguintes:

  1. Se a carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum Curricular não pode ser superior às 1.200 horas da carga horária total do Ensino Médio, as outras 3.000 horas serão distribuídas apenas para uma das 5 opções de áreas: I – linguagens; II – matemática; III – ciências da natureza; IV – ciências humanas; e V – formação técnica e profissional.
    • Se a pessoa mudar de área no meio do percurso, como ficará?
    • Se a escola não oferecer todas as 5 opções de área, o aluno terá de sair do colégio?
    • Vai ter professor para todas as áreas?
    • Vai ter aluno para todas as áreas?
  2. Se profissionais com notório saber, reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino poderão ser contratados para ministrar conteúdos de áreas afins à sua formação,
    • Como será aferido este notório saber?
    • Estudantes universitários que ainda não concluíram o curso poderão ser contratados?
    • Poderá haver contratações de pessoas sem concurso público para lecionar?
  3. Fica instituída, no âmbito do Ministério da Educação, a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
    • As secretarias de educação já consideraram o valor anunciado (R$ 1,5 bilhão) insuficiente. Quem vai pagar a conta?
    • Como vão ficar os alunos que trabalham e estudam à noite?
    • Nas escolas particulares, como os pais vão suportar esse aumento de mensalidade?

Em resumo, a Reforma do Ensino Médio não possui uma perspectiva de aplicabilidade favorável, a ponto da maioria das escolas estarem completamente inertes aguardando por outros referenciais mais consistentes. Quem sabe com o próximo governo, que se elegerá em 2018, algumas mudanças imperativas sejam tomadas a fim de viabilizar a reforma.
Autor: Prof. Paulo Rocha

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