Por André Bürger , do Nós da Comunicação
No recente estudo, ‘The Impact of Social Media on Children, Adolescents, and Families’, publicado no portal da American Academy of Pediatrics (AAP), psicólogos analisaram os efeitos do uso excessivo das redes sociais na vida de adolescentes. Para os pesquisadores, os pais desses jovens deveriam monitorar possíveis problemas como cyberbullying, exposição inapropriada na rede e a frequente atividade de ‘sexting’, contração de ‘sex’ e ‘texting’ que refere-se à divulgação de conteúdos eróticos por meio de smartphones.
Para a psicóloga Luciana Nunes, diretora do Instituto PsicoInfo – que trata usuários dependentes da internet e suas consequências psicológicas, como depressão e ansiedade –, os adolescentes devem receber uma atenção especial, pois ainda estão em processo de formação psicológica e social. “Quando um adolescente se acostuma aos estímulos proporcionados nesses ambientes digitais, ao privá-lo, percebe-se uma carência muito grande. Fisiologicamente, existe um comprometimento.”
Segundo o estudo, a falsa realidade exposta nas redes sociais, onde frequentemente os usuários publicam apenas o melhor de si mesmos, muitas vezes acarreta baixa autoestima por parte dos jovens. Esse quadro levou estudiosos a cunharem o termo ‘Facebook Depression’. Graças a esse cenário, muitos adolescentes se sentem ainda mais deslocados, situação que foi ironizada no episódio ‘You have zero friends’ do seriado animado South Park, em que um dos personagens sente a angústia de não ter amigos no Facebook. “Esses jovens optam por fugir da realidade”, alerta a psicóloga. “Em vez de resolver suas questões sociais, muitos resolvem se proteger no mundo virtual”.
Apesar do relatório da AAP parecer alarmista, Luciana ressalta que o mau uso das redes sociais e internet ainda afeta uma pequena porcentagem dos usuários. Segundo ela, a American Psychological Association divulgou recentemente que apenas 4% dos internautas apresentavam comportamento patológico com dependência da web.
“Alguns são viciados em jogos, outros em compras, outros em redes sociais. O mais clássico é o cybersex, compulsão por sexo na rede. E o adolescente está justamente na fase da formação sexual. Como consequência, percebemos as excessivas práticas do sexting entre os jovens”, analisa Luciana. Entretanto, a especialista foi taxativa ao não atribui a culpa ao Facebook. “Sozinha, a rede social não gera depressão nas pessoas. O mau uso desses sites é que vai depender de cada um.”
As facilidades de conexão com a internet por meio de smartphones é outro fator que impulsiona as práticas sociais na web e que, segundo a psicóloga, gera uma tensão em relação à interatividade muito maior do que no passado. “Se antigamente os jovens gostavam de andar em grupos, agora eles andam ‘grudados’.”
Outro ponto é o desequilíbrio social gerado por esse comportamento: quanto mais eles se conectam, menos vivem no mundo off-line de forma presencial e saudável. “Vemos uma migração nas formas de comunicação. Aquele que fica atrás do computador não tem a chance de se expor a levar um fora de uma garota, por exemplo. Na web, eles divulgam conteúdos bastante obscenos, por acharem que estão protegidos”, critica a psicóloga que também atende jovens no instituto.
A moderação no uso dessas redes por adultos
Não são apenas adolescentes que se tornam subordinados às redes sociais e aos diversos prazeres do mundo on-line. Luciana explica que essa dependência também está presente em adultos que apresentam perfil compulsivo, mas ressalta que o vício pode surgir em qualquer um. “Nessas pessoas, percebo uma necessidade interna que precisa ser saciada. Outros pontos são a questão do anonimato e a evasão, descarga emocional gerada quando se está conectado.”
Segundo a psicóloga, é mais fácil apontar uma pessoa viciada em jogos ou bebida, por exemplo, do que identificar os vícios gerados pela internet. Entretanto, a dependência da internet pode ser tão prejudicial quanto. “É relativamente mais simples deixar de fumar ou beber, mas é muito difícil viver sem internet, algo que já faz parte do nosso cotidiano. É preciso realizar um trabalho de moderação.”
É esse equilíbrio que a jornalista e publicitária Vanessa Amaral, de 28 anos, vem buscando nas últimas semanas. Analista do Sebrae, por causa de um quadro de estresse, sua médica ortomolecular recomendou dormir mais cedo e deixar de usar o computador em casa, após o trabalho. “Eu passei a desligá-lo à noite, mas o uso do celular eu ainda estou tentando diminuir”, comenta.
Antes de atuar com monitoramento de redes sociais e comunicação, sua atual função profissional, Vanessa já acessava, com muita frequência, programas de mensagens instantâneas como MSN. “Eu acordava de manhã e tinha que me conectar, mesmo que não usasse efetivamente.”
Foi após trabalhar em uma agência que realizava ações em redes como Facebook e Twitter, que a publicitária adquiriu a mania de atualizar suas páginas de perfil várias vezes ao dia. “Eu tenho vício por interação e busca por informação. Quando estou em trânsito ou no táxi, eu entro para saber se alguém respondeu alguma coisa que publiquei”, comenta.
A publicitária explica que esses vícios não chegaram a afetar sua vida. Em sua opinião, o máximo que acontecia era perder o sono e dormir tarde por causa das redes. Para Vanessa, vivemos em uma era em que as pessoas estão sempre buscando por mais informação e notícias. “Parece que quanto mais informações sobre acontecimentos nós temos, mais procuramos por notícias. Quando vejo um acidente ou evento, quero compartilhar isso com meus amigos. Vejo pessoas que não conseguem mais esperar pelo jornal impresso no dia seguinte”, analisa.