O desenvolvimento infantil é um dos temas que mais aprecio, não somente por sua demasiada importância no que diz respeito ao acompanhamento da criança, mas pela sua potencial influência na construção do “ser humano” por todos aqueles que o cercam. O processo de formação da personalidade de um ser sofre grande influência do ambiente em que se está inserido, assim como a vida emocional e a identidade de um indivíduo. Dessa forma, fica fácil entender que os espaços frequentados pela criança serão de extrema importância para a promoção de um desenvolvimento sadio e seguro. Com uma base segura, os pequeninos se desenvolvem com autonomia e têm um espaço adequado para o seu desenvolvimento. Entretanto, se o contrário acontece, alguns prejuízos podem ser observados ao longo desse processo, como insegurança, dificuldades no aprendizado e de socialização, entre outros. Também é importante salientar que é fundamental reconhecer e respeitar cada fase da criança, buscando estimula-las nos momentos pertinentes e sendo paciente em seus momentos de transição.
O primeiro ambiente com o qual a criança terá contato é o familiar. E é nele que as fases iniciais do desenvolvimento serão conquistadas. Costumo dizer que essa é a fase da descoberta, pois após o nascimento, tudo se torna uma novidade. Primeiramente, ocorre um processo de adaptação, tanto para mãe quanto para o bebê. Num dia eram um só, unidos pela barriga, no outro, estão separados, cada qual tentando se conhecer. A partir desse dia, todo o processo de construção do “eu”, que se iniciou no ventre, começa a se intensificar. Sons, cheiros, cores, vozes, sensações, tudo isso será experimentado pela primeira vez. E os principais agentes para a continuidade desse processo são os pais ou os responsáveis diretos desse pequeno ser. Aqueles que proporcionarão os primeiros vínculos de afeto e segurança necessários. Relações de carinho, cuidado, interação, cuidados básicos, alimentação e tudo o que for relacionado ao bebê será influenciador nesse momento. O primeiro ano de vida é considerado o mais importante para a aquisição de um vínculo de afeto seguro. Por isso, a participação efetiva dos responsáveis nesse período, nos mínimos detalhes, como o banho, brincar ao ar livre, cantar uma música, contar uma história, fazer uma refeição em família, são fatores marcantes para a conquista de uma base firme que facilitará todo o desenvolver futuro dessa criança.
O segundo ambiente de grande relevância é a escola. Esse, sem sombra de dúvidas, é o local onde as habilidades secundárias serão conquistadas, bem como o processo de socialização. Brinco dizendo que esta fase começa com os “porquês”, levando os papais, mamães e responsáveis à loucura. Nunca vi tantos porquês, e parece que quanto mais respondemos, mais aparecem. Isso deve-se ao ganho da linguagem que permite uma nova percepção do mundo e novas conquistas de conteúdo. A criança sente-se empoderada de uma gama de conhecimentos antes muito limitados às repetições de sílabas e vogais: “dadá, mamã, papá” e por aí vai. Agora ela consegue formular frases e dizer o que pensa e o que sente. Uau! Elas têm todo o poder que precisavam!
Elas começam a perceber que há um mundo fora de suas casas do qual também participam. E agora, mais do que nunca, podem se comunicar com esse mundo e dizer tudo o que querem. É por isso que sempre ouvimos: “Criança é sincera demais”. É simplesmente porque elas reproduzem o que acabaram de conhecer. Porém, este mundo amplo e vasto ainda é obscuro. Dessa forma, o reconhecimento dessa fase pelos responsáveis é de extrema importância, devendo ser incentivado e estimulado. A criança deseja e anseia essas novas experiências, mas ao mesmo tempo não quer abandonar seu, até então, ambiente seguro. Entretanto, se encontram pais e/ou responsáveis que saibam direciona-las e incentiva-las, o que a princípio era um desafio e, para muitos, um obstáculo, agora se torna uma nova aventura e um novo aprendizado.
É neste momento que a escola ganha força como agente de formação dessa nova etapa. A criança agora passa a ter dois ambientes de extrema influência para o seu desenvolvimento e a partir desse momento o aprendizado é muito mais intenso e rápido. Ambos, pais/responsáveis e escola, tornam-se determinantes para as próximas fases do desenvolvimento. As principais habilidades alcançadas neste momento são aquelas relacionadas ao convívio social, tais como empatia, companheirismo, cooperação, assertividade, civilidade, enfrentamento e aquelas relacionadas ao aprendizado, como habilidades de matemática e linguagem. Por isso, a falta de incentivo, estímulo e elogio, de ambas as partes, podem trazer sérios prejuízos nesse processo.
Por fim, a criança, que agora não é mais criança, agora é um adolescente, está pronta. Pronto para tomar decisões complexas e decisivas. Pronto para iniciar novos processos e novas etapas que agora se remetem a vida adulta. É nesse momento que percebemos que nosso bebê cresceu e não precisa mais de tanta ajuda. Agora, costuma fazer tudo sozinho e sem muito auxílio. É nesse momento que percebemos que já é tarde para qualquer reparo, qualquer ajuste, pois a criança agora é um ser independente, formador de opiniões. Então, antes que chegue esta hora, que possamos fazer parte do processo, de cada fase, de cada detalhe, para que neste dia tenhamos o orgulho de saber que fizemos todo o necessário para prepara-los para o futuro!
Por Dra. Marcela Andrade
Pediatra e Especialista em Neuropsicologia