Pai, mãe ou figuras substitutivas – eis aqui uma reflexão: Parentalidade, “uma arte”. Originária do latim (Dic. Priberam) ‘ars’, arte significa a maneira de ser, de agir, conduta, habilidade, ciência, talento e ofício. E não seriam estas as prerrogativas essenciais do exercício de ser pai e mãe? Tão simploriamente conceituamos as palavras e teorizamos acerca do que está a nossa volta. Mas, ao olharmos secretamente para nós mesmos enquanto pais, parece termos perdido o vínculo com a nossa obra; perdemos a capacidade indelegável de ser pai e de ser mãe.
Refletir sobre este tema é começar por nós mesmos. Antes de sermos pais, como nos tornamos quem somos, os pais que tivemos, os adultos que escolhemos ser e nossa escolha por nos transformarmos em pais. “Rascunhamos” mentalmente os filhos que queríamos ter e, na busca “artística” desta construção, buscamos o que cremos ser o melhor, lendo sobre vários assuntos, como: educação, limites, modernidade, tecnologia etc. Assistimos a documentários, noticiários, depoimentos etc… e parece que reforçamos a ideia da perda da capacidade de sermos bons “artífices pais”.
Num momento histórico em que vivemos, filhos têm “se produzido” por discursos diversos: através de sua rede pessoal – virtual ou não, sobre a qual pouca influência temos –, de seus vizinhos, de seus professores etc. e também dos nossos próprios discursos. Dispõem de informação e as acessam com a facilidade bem distinta daquela em que recorríamos às bibliotecas reais, de livros por vezes pesados, empoeirados e até mofados. Eles têm a celeridade dos tempos, mas não o hábito de pensar, construir ideias, ponderar. Possuem ‘acesso’, mas parecem-nos inacessíveis, apesar de centenas de amigos virtuais e até seguidores. Estão fisicamente até conosco, mas com as mentes inquietas, sempre com o sentimento de urgência de serem vistos, observados, divulgados. Basta olharmos o quão alteram seus “perfis” nas redes sociais.
É urgente revermos a arte de sermos pais, revermos os vínculos estabelecidos entre nós e nossa ‘criação’ desde a ideia do nascimento, seu desenvolvimento e esta esperada “arte final” a que nos propomos. Vínculos são criados através das relações que estabelecemos com nossos filhos. Não dependem tão somente de nossas falas, mas muito de nossa escuta. Tal como pontes, há de considerarmos ambas as margens. A “construção” de pessoas, de filhos em especial, ”cidadãos do futuro” inclui esta grande arte. A ponte que transporta a nossa voz aos filhos e a ponte que percebe a voz deles. Nesta esfera, quase sempre há diálogos incongruentes, divergentes. Eis aqui o início de uma grande obra: nossos filhos. A arte é um diálogo entre o artista, seus instrumentos e seu objeto. Uma tríade única.
Eliane Mariath – Psicóloga do Colégio Integral

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